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Como a nanotecnologia pode ser usada na crise de fertilizantes será o assunto debatido no Crea Convida desta terça-feira (5)

Projeto desenvolvido pelo químico Marcelo Oliveira Rodrigues será apresentado por ele, com a participação dos engenheiros agrônomos Juscimar da Silva e Luís Fernando Campeche

Há quem classifique a crise no suprimento de fertilizantes em função da guerra na Rússia como oportunidade para o Brasil acelerar o agro sustentável. Hoje, o País ocupa o quarto lugar entre os maiores consumidores de fertilizantes do mundo e é o maior importador. A busca por soluções pode passar pelo uso de nanotecnologia na agricultura. Para fomentar esse debate, o Crea Convida desta terça-feira (5) traz exatamente o tema: “A nanotecnologia na agricultura e a crise dos fertilizantes”.

O assunto será apresentado pelo químico Marcelo Oliveira Rodrigues, o engenheiro agrônomo Juscimar da Silva, e o também engenheiro agrônomo, Luís Fernando Campeche. A redução da dependência de fertilizantes, sejam importados ou não, pode estar no projeto desenvolvido por Marcelo Oliveira Rodrigues.

Professor de química inorgânica do Instituto de Química da Universidade de Brasília, com doutorado na UFPE, cientista e inquieto por natureza, o químico, após finalizar o doutorado, pegou sua tese para continuar publicando alguns artigos e resolveu aprender coisas novas, indo para outras áreas, interagindo com outras pessoas. Começou tendo interação com a medicina e com a biologia. “Isso foi muito importante porque eu consegui desenvolver produtos, tecnologias voltadas para estudar o câncer, as células tumorais, que já acontecia no doutorado e uma parceria com a medicina”, lembra Marcelo Rodrigues.

“Percebemos que esse caminho tinha futuro”, destaca o químico. Mas um corte de verbas para pesquisa nas instituições públicas, em 2013, acendeu a luz de alerta para Marcelo para a necessidade de ser independente e o que o caminho era a inovação. Não sabia onde iria levar. Em 2015 ele conheceu o pessoal da Embrapa, mais precisamente Juscimar da Silva, que teve um papel chave na pesquisa. Uma virada de chave.

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Hortaliças Brasília exatamente da área de fertilizantes sugeriu que essa tecnologia que ele estava aplicando na medicina fosse usada no campo.”Ele me disse: você pode desenvolver bioestimulantes para desenvolvimento vegetal , usando a lógica de formulação, ou desenvolver nanopartículas que ativam o metabolismo da planta num nível que até então não estava sendo feito”, afirma Rodrigues. Em dois meses, estavam trabalhando juntos.

Entre 2015 e 2016, foi uma fase de tentativa e erro. “Na trigésima tentativa conseguimos o que queríamos”, pontua Rodrigues. O próximo desafio era atestar ou não se o resultado da pesquisa era viável economicamente e os passos seguintes confirmaram a tal desejada viabilidade econômica.

Em seguida, foi firmada uma parceria entre a Embrapa, UnB e UFRJ, responsável pela parte da fisiologia da pesquisa. O passo seguinte foi a criação de uma startup para colocar o produto no mercado. Nascia assim a Krilltech, uma parceria público privada da Krilltech e a Embrapa e UnB, como entes públicos.

A divisão de tarefas foi feita desta forma: a pesquisa base na UnB, a pesquisa aplicada na Embrapa e o ente privado para levar para o mercado. “A Embrapa tem o know how da parte agronômica. Foram feitos os testes para a validação agronômica”, reporta Juscimar da Silva. O primeiro teste foi com o tomate, onde foram percebidos os aumento de qualidade, com o tomate com mais polpa, mais vermelhos, mais doces, além de um incremento na sua produção.

O diferencial da pesquisa capitaneada por Marcelo Rodrigues é respeitar a fisiologia da planta. É olhar a planta como um organismo vivo que tem toda uma genética, uma biologia. “A gente não olha a planta como uma bomba que vai sugar nutrientes. A gente respeita a biologia da planta e tenta interferir de modo que esta planta esteja menos estressada, mais sadia e ela poder explorar o potencial fisiológico dela”, reforça o químico

Para Marcelo Rodrigues, um outro ponto positivo da pesquisa é a possibilidade de recuperação de lavouras abandonadas, com baixa produtividade. “Com essa tecnologia estamos renovando essas áreas que estavam com baixa produtividade por serem áreas velhas, mostrando que é possível alta produtividade conservando a natureza”, pontua o cientista.

A partir do momento em que você faz com que a planta absorva o nutriente de forma mais eficiente, isso gera economia. “Adubar para 70 arrobas e produzir 120, 140 ou até 200, a depender do manejo, isso representa uma economia muito grande para o produtor. Têm produtores reduzindo em 25% a adubação base no café e mantendo a performance da planta”, contabiliza o químico.

Luís Fernando Campeche, que é professor IFSertãoPE Campus Petrolina, explica que eles estão trabalhando com uma linha de pesquisa de introdução de novas culturas, novas variedades no Vale do São Francisco, a exemplo do cacau. No caso, o cacau irrigado. Marcelo Rodrigues soube do projeto e propôs a parceria em usar a nanotecnologia. “Estamos fechando um acordo de cooperação técnica com a Krilltech e a startup será mais um dos parceiros do nosso projeto”, afirma Campeche.

Ele disse que o plantio do cacau deve começar dentro de um mês, um mês e meio. O projeto como todo, segundo ele, contempla ainda soluções inovadoras, desde a parte de automação da irrigação, que pode ser acionada remotamente, a sensores de umidade, que também têm o acionamento remoto, utilizando a internet, dentro da realidade do agro 4.0.

O debate será transmitido pela TV Crea-PE, pelo YouTube, a partir das 19h. Depois da apresentação dos palestrantes, será aberto um espaço de perguntas sobre o assunto, que é uma discussão mais do que atual e de interesse mundial.

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