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Crea Convida desta terça-feira (19) traz o debate sobre a experiência na gestão da ponte Rio-Niterói e a realidade do Recife

Como palestrantes: Carlos Henrique Siqueira, engenheiro civil, e Francisco Mendes, engenheiro mecânico, ambos com experiência à frente da obra, além do debatedor, o engenheiro civil Carlos Calado, especialista no assunto

As pontes do Recife são cartão postal da cidade. Cenário de roteiros turísticos, as construções estão longe do cuidado e manutenção necessários para a conservação das obras e segurança. Imagens de ferragens expostas, manchas no concreto aparecem com uma frequência desconfortável. Só para ter ideia, o problema das pontes já virou tema de aula para os estudantes de engenharia civil, na UFPE.

O que precisa ser feito para solucionar os problemas com a manutenção e conservação das pontes recifenses? Buscar experiências que dão certo é o melhor caminho. Para isso, o Crea Convida desta terça-feira (19) tem como tema “As experiências na gestão e manutenção das estruturas da ponte Rio-Niterói e a realidade do Recife”, com os palestrantes: Carlos Henrique Siqueira, engenheiro civil e corresponsável técnico pela vistoria e manutenção da ponte Rio-Niterói; e Francisco Mendes, engenheiro mecânico e ex-diretor de engenharia e operações da ponte Rio-Niterói. Como debatedor, teremos a presença de Carlos Calado, engenheiro civil, professor da UPE e especialista em pontes e viadutos.

A ideia é buscar metodologias e processos aplicados na Rio-Niterói e adaptar à realidade das pontes da capital pernambucana. E a melhor referência é exatamente da obra carioca. Na época que começou a ser construída, em 1969, era a terceira maior ponte no Mundo. Hoje está na 13ª posição. Ela é a única obra no Brasil que tem a manutenção diária, com o uso de tecnologias de ponta, com a adoção de modelos internacionais, mas também com processos desenvolvidos aqui, que servem de referências para quem vem de fora e leva nossos processos para serem aplicados lá fora.

Carlos Henrique, engenheiro civil, formado na Universidade Federal da Paraíba, foi para o Rio de Janeiro após a conclusão do curso. Lá, fez pós-graduação e logo depois entrou na construção da ponte Rio-Niterói, por um convite de um amigo. “Entrei em outubro de 1972 e até hoje estou na ponte. Ela tem 48 anos de inaugurada e eu tenho 50 que trabalho nela”, recorda-se Siqueira. Com mestrado e doutorado na área de vistoria de pontes e viadutos de concreto, o engenheiro participava, antes da pandemia, ativamente de congressos e palestras internacionais em pelo menos 30 países, a exemplo do Japão, China, Índia, Nigéria, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, onde falava da Rio-Niterói.

Ele conta que depois da construção da obra, surgiu o trabalho de vistoria da ponte. “A gente não tinha essa cultura no Brasil e graças a uma empresa norte-americana, que era consorciada com a empresa que eu trabalhava, eles trouxeram para a gente uma cultura de vistoria e manutenção e eu fui precursor no Brasil nessa situação com a Rio-Niterói”, destaca Siqueira.

Para ele, a ponte é um exemplo. “Uma obra magnânima. Quando foi inaugurada era a terceira maior do Mundo e hoje é a 13º, mas ela não perde status, porque em qualquer lugar do mundo que você vá, quando você fala da Rio-Niterói, ela é muito bem vista. É referência mundial em termos de manutenção”, assegura o consultor, que de tão apaixonado pelo tema, fez sua tese de doutorado inteirinha sobre a Rio-Niterói, com 720 páginas.

A Rio Niterói, que chama-se de fato Ponte Presidente Costa e Silva, liga a cidade do Rio de Janeiro à de Niterói, sobre a Baía de Guanabara, no estado do Rio de Janeiro, com quase 14 quilômetros de extensão. Antes do funcionamento da ponte, era necessário percorrer cerca de 120 km em estradas ou optar pelo uso de balsas. O seu projeto foi idealizado por Mario Andreazza, então ministro dos Transportes. A obra demorou pouco menos de seis anos para ser concluída e foi entregue no dia 4 de março de 1974.

Atualmente, a ponte é a maior do hemisfério sul em concreto protendido e a maior da América Latina. A estrutura recebe mais de 150 mil veículos por dia, segundo informações da concessionária Ecoponte, em dias de fluxos normais. O projeto também é conhecido como o maior vão em viga reta do mundo e o maior conjunto de estruturas protendidas da América.

O consultor lembra que a ponte foi projetada e não havia nem o advento do computador. “Foi projetada na munheca”, reforça ele. Para Siqueira, na construção da ponte, o que mais o marcou foi “fazer concreto em contato com a água. Foi uma experiência para todo mundo no Brasil e pela primeira vez se usou um cimento especial, que combate as ações nefastas da água. Isso me marcou muito. As fundações da ponte foram engenhosamente construídas. Até hoje, o processo construtivo da ponte é atual”, assegura.

A ligação de Francisco Mendes com a Rio-Niterói começou em 1995, quando foi feita a concessão da ponte – a primeira do País – a uma empresa privada. “Trabalhava há 15 anos na Camargo Corrêa, em construção de barragens, túneis, estradas, pontes e a Camargo Corrêa era uma das sócias do consórcio que assumiu a concessão da ponte. Fui convidado para ser o gerente de engenharia e obras no início da concessão da ponte”, conta Mendes.

Ele afirma que neste cargo permaneceu por cinco anos, no período de grandes modificações, de grandes obras que foram feitas na ponte após a supervisão e gestão do DNER, quando passou para a empresa Ponte S.A. “Eu era gerente e depois mais dois anos como diretor de engenharia e operações. A concessão mudou para outro grupo, a CCR e nesse grupo fiquei 15 anos como diretor de engenharia e operações de rodovias sob concessão. Quando foi relicitada a ponte, que era um período inicial de 20 anos, eu participei do processo, mas ganhou um outro grupo que está lá atualmente na gestão da ponte”, historia o engenheiro mecânico, que foi desviando da formação inicial e migrando para a área de manutenção. “Depois fui para manutenção de instalações industriais em barragens e depois passei à parte de operação de instalação industrial e passei a ser muito mais engenheiro lidando com coisas civis”, conta Mendes.

Ele assegura que a função da ponte foi uma coisa extremamente necessária, muito bem-vinda e é até hoje. “A obra foi dimensionada inicialmente para 25 mil veículos por dia, podendo chegar, na época da concepção dela, a 50 mil veículos por dia. É uma ponte que cumpriu plenamente com todo o seu desempenho operacional e na parte estrutural foi extremamente bem construída. Tanto a parte de estrutura metálica, quanto a parte de concreto”, destaca o engenheiro.

Francisco Mendes reforça que o concreto resiste muito, mas ele não é eterno. “Fez parte de quando assumimos a concessão a instalação de um programa, que na época, no Brasil, era bem inovador, de monitoração e inspeções na ponte na parte metálica e concreto e pavimentos para que a vida útil da ponte fosse prolongada o máximo possível”, explica Mendes.

Carlos Calado vai contribuir no debate como especialista em obras de artes, pontes, viadutos em concreto armado e protendido. “Vamos escutar o que eles têm a dizer, pontuar. Ver o que pode-se trazer para aqui e falar um pouco da realidade que nós temos”, assegura Calado. Ele conta que recentemente, há uns 3, 4 anos, fez um projeto de recuperação para a Ponte da Torre e a do Derby. “A Giratória vai entrar em obras agora, a da Motocolombó. São obras que estão num contexto que cumpriram seu tempo de uso. Elas precisam de fato um trabalho de recuperação e ao mesmo tempo corrigir problemas que estejam acontecendo, independente se foram gerados por questões de projetos ou falta de manutenção ou de execução”, pontua o professor.

Para ele, a ponte Rio-Niterói é um ponto fora da curva. “No entanto, existem normas que o próprio Brasil tem para fazer inspeção e manutenção de obras de artes especiais, as pontes e viadutos. A gente precisa buscar isso. Evidente que tem as características de cada obra, de cada sistema construtivo e uma série de outras variáveis que interferem. Não há uma receita de bolo. O que há é, guardando as devidas proporções dos problemas, em função da grandiosidade da obra ou das suas características especiais, ela pode demandar um planejamento de operação, manutenção que seguem padrões diferentes, mas no fundo todas têm algo em comum: é o cuidar. É não deixar ala abandonada, uns 10 anos sem ninguém olhar para ela”, reforça Calado.

O Crea Convida é transmitido ao vivo pela TV Crea-PE, no YouTube, a partir das 19h. Após a apresentação dos convidados é aberto espaço para interação com o público com perguntas sobre o tema.

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