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O potencial da cultura do café no Agreste de Pernambuco foi pauta do Crea Convida

O encontro abordou a produção do grão, a qualificação dos produtores e caminhos possíveis para o crescimento do setor em Pernambuco

O café foi o assunto da pauta do Crea Convida realizado na quarta-feira (8). A bebida, preferência nacional de milhares de brasileiros, coloca o País no segundo lugar do ranking mundial de maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. Para falar sobre “A Produção de Café no Agreste Pernambucano”, foram convidados o presidente da Associação dos Produtores Orgânicos de Taquaritinga (Aprotaq), Antônio Leonel, e a analista do Sebrae-PE, Amanda Ferreira.

A debatedora do encontro foi a engenheira de alimentos e inspetora do Crea-PE em Garanhuns, Monnykhe Lorena de Oliveira Melo, que atua numa das mais antigas indústrias de café do Estado, instalada no município. Ela é responsável, entre outras funções, pela classificação dos grãos. A live sobre o tema foi transmitida em tempo real pela TV Crea-PE, no YouTube, e está salva no canal. Para assistir, clique aqui.

É em Taquaritinga do Norte, cidade localizada a 186 quilômetros do Recife, que a cultura tem maior expressividade. O diferencial se dá por fatores que influenciam diretamente na qualidade dos grãos produzidos na região. A área encontra-se num local com altitude que chega a mil metros, em terreno acidentado, coberto por árvores frutíferas e exemplares de Mata Atlântica. Tais espécies propiciam aos pés de café sombra e umidade que conferem excelência aos grãos.

Antônio Leonel contou que a produção de café na década de 1990 tinha como prioridade atender o mercado em larga escala, sem muita atenção para a qualidade do grão. Para que esse comportamento fosse mudando gradativamente, os produtores se inspiraram nos resultados alcançados por aqueles que lançaram mão de todos os mecanismos que apresentassem um produto de qualidade pronto para o consumo. “Mesmo com dificuldades, quem apostou nesse caminho segue no mercado, enquanto outros acharam melhor mudar de ramo ou fecharam suas portas”, afirmou Leonel.

E a aposta no café de qualidade consolidou-se. Há pouco mais de três anos, quando assumiu a presidência da associação, que foi criada por sua mãe, Leonel e diretores da Aprotag procuraram o Governo do Estado e receberam apoio para adquirir novo maquinário, fizeram um chamamento público e o mercado voltou a reaquecer. Atualmente, Taquaritinga conta com pouco mais de 200 produtores de café e, a associação, que há três anos tinha oito associados, hoje tem 22.

Desde 2019 os produtores recebem apoio do Sebrae-PE, que implantou um projeto, realizando cursos de gestão, finanças, marketing de vendas e de cooperativismo, para produtores, além de treinamento de degustação, como explicou a analista Amanda Ferreira. O projeto deu uma parada em setembro de 2020.

O investimento aqueceu não apenas a produção do café, mas também, o mercado de cafeterias. Segundo levantamento feito pelo próprio Antônio Leonel, no último ano, mesmo com a pandemia, Caruaru, por exemplo, abriu 22 cafeterias.

A produção de café também potencializou o turismo e lazer em Taquaritinga do Norte. A cidade produz grãos raros e especiais do tipo Arábica Típica e foi ela quem recebeu a primeira planta cafeeira a ser introduzida no Brasil, em 1727. Os visitantes que chegam ao município vêm para conhecer mais sobre o cultivo do café, os tipos, experimentar os sabores diretamente onde são produzidos. A proposta é fazer o turista ter experiências diferenciadas, sentir o cheiro, o sabor e até as dificuldades de se ter um café especial à mesa.

Segundo Leonel, os produtores já sabem que “não é só plantar e colher o café para vender em sacas, como antigamente”. “Na chamada terceira onda, o consumidor se tornou mais exigente e cada detalhe é importante para a valorização do produto”, atestou.

Mas, nem tudo são flores, lá onde os grãos são raros existe seca, chuva em época imprópria, entressafra, falta de irrigação e essas intempéries causam prejuízos. “O diferencial do Arábica Típica é que ele é cultivado na sombra das vegetações da Mata Atlântica. Isso faz com ele demore mais a ser colhido. Com a seca, natural da região, perdemos muito dessa cobertura da Mata”, relatou Leonel.

Amanda Ferreira explicou que, além do Sebrae-PE, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) também é parceira do projeto de qualificação dos produtores. Entre as ações voltadas à pesquisa e capacitação de profissionais, está sendo elaborada uma tabela nutricional do café produzido no município. Por não utilizar nenhum tipo de agrotóxico e máquinas que emitem gases poluentes, o Sebrae-PE está trabalhando para que a atividade possa gerar créditos de carbono, agregando ainda mais valor ao produto.

Monnykhe Lorena lembrou que, na atividade que exerce numa indústria de café, é visível a falta de conhecimento dos produtores. “Eles não têm ideia do ouro que têm nas mãos. É de doer ver, por exemplo, toda uma safra perdida, pelo excesso na torra do grão”, lamentou.

Ela disse que, como engenheira e representante do Crea-PE, se coloca à disposição para ajudar no que for possível para que o sucesso das parcerias com produtores de Taquaritinga possa ser replicado para outros tantos que têm café de qualidade, mas, falta conhecimento para terem melhor proveito da cultura. “Somos eu e mais duas inspetoras: uma engenheira agrônoma e outra engenheira civil e a nossa proposta é ajudar a gestão para fazer um Crea para todos. Nesse sentido, estamos à disposição para conversarmos e vermos no que o Crea-PE pode ajudar para beneficiar mais produtores”, assegurou a inspetora.

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