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Cidade da Copa é discutida na audiência pública

“Vou sair do limite da Arena Pernambuco e ampliar para um conceito muito maior que é a Cidade da Copa”. Com essas palavras o presidente da Sociedade Propósito Específico Arena Pernambuco, Marcos Lessa, iniciou o segundo painel da audiência pública realizada nesta terça-feira (19) pelo Crea-PE em parceria com o Confea. A Arena Pernambuco foi também tema da exposição dos presidentes do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de Pernambuco (IAB-PE), Vitória Régia, do Sindicato dos Arquitetos de Pernambuco (Saepe), Francisco Buarque, e do vice-presidente de Ciência e Tecnologia do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Ilo Leite.

 
Na abertura do painel, o arquiteto e conselheiro federal José Luís Mota Menezes, que coordenou os trabalhos na mesa, recepcionou os presentes e comentou que a Arena precisa beneficiar não só o local onde será instalada, mas todo o Estado. “Vamos agora analisar o macro até chegar ao micro objeto, a execução do projeto, a filosofia e as demais informações de relevância para a sociedade”, disse Mota ao conceder a palavra ao administrador de empresas Marcos Lessa.
 
Lessa apresentou em primeira mão um desenho master plan da Cidade da Copa. Falou sobre a criação de uma nova centralidade urbana, com o objetivo de desenvolver o lado Oeste da Região Metropolitana do Recife. O presidente da Arena apresentou breve histórico da Odebrechet, falando que a empresa está diretamente envolvida em quatro arenas no Brasil, uma obra pública no Rio de Janeiro, o projeto particular do Corinthians, e as Parcerias Público Privada (PPP) na Bahia e em Pernambuco.
 
“Nosso objetivo é preparar uma estrutura de entretenimento que é um segmento com demanda forte e carente no País”, explicou Marcos Lessa. Segundo Lessa, Recife recebe influência de estados vizinhos e está adotando a primeira cidade 100% entretenimento no Brasil, um modelo smart city, com cidades produzidas de maneira sustentável. “A Arena está sendo concebida para um modelo multiuso. Esse perfil se torna um grande ativo e acaba desenvolvendo nova centralidade urbana e uma possibilidade de desenvolvimento muito grande ao redor da Arena”, explica. O administrador também comentou que o espaço abrigará grandes eventos musicais. Ele explicou que para um show de grande porte se gasta em média R$ 3 milhões na infraestrutura. “O pessoal monta uma infraestrutura completa, gastando muito e depois tem que desmontar tudo. A Arena comportará eventos de música, esporte, entre outros. É o que chamamos de conceito de smart stadium, com tecnologias para trazer um conforto maior e segurança”, completou.
 
Com relação aos investimentos, Lessa falou sobre o reforço de R$ 33 milhões em infraestrutura anunciado pela presidente do Brasil Dilma Roussef. A geração de emprego também é uma realidade. “Estamos vivenciando a empregabilidade em nossa obra em Pernambuco, são no momento 600 trabalhadores”, disse.
 
Lessa explica que Pernambuco é um estado diferenciado porque está recebendo uma quantidade significativa de investimento. Em se tratando de mobilidade, a Arena está situada a 19 km do aeroporto e do Marco Zero. O governo está pensando em uma nova mobilidade urbana, novas vias que geram um total de 33 km. “Entre elas, estão a Via Mangue, vias novas que irão surgir, avenida Caxangá, a requalificação dessa avenida que pode ser o principal acesso da Cidade da Copa, e obra de duplicação da BR-408 que já está acontecendo”, contou.
 
A Arena está projetada para receber 46 mil pessoas, com investimento de R$ 532 milhões. “Queremos deixar o Recife como a cidade que gerou o maior legado para a Copa de 2014, trazer um pouco do pilar dessas novas cidades onde as pessoas estudam, trabalham e se divertem sem precisar se locomover muito. Aproveitar o potencial ambiental e ecológico da Arena. Teremos um espaço indoor para 20 mil pessoas, climatizada, um Convention Center, espaço para feiras, working para empresas e escritórios se estabelecerem. No centro terá uma grande área de entretenimento para restaurante, bares, shopping e área para campus universitário”, finalizou.
 
Após a explanação de Lessa, foi a vez da presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, Vitória Régia, desabafar sobre a participação dos arquitetos. “Fala-se que está faltando engenheiros no País. Os arquitetos também podem fiscalizar obras, nós queremos participar”, comentou. Para Vitória, uma obra de sistema viário não pode ser apenas objeto de especialista de transporte. “As estruturas precisam estar maximizadas, serem inseridas em uma obra de infraestrutura com o propósito de melhorar a qualidade de vida urbana. Esse mundo de especialista acabou, os projetos são feitos agora com interdisciplinaridade. Se não juntarmos viabilidade e qualidade de vida não teremos nada para mostrar. Por isso um dos grandes problemas de inúmeras cidades é que se cria junto uma grande pobreza ao redor”, expôs a arquiteta.
 
Já o vice-presidente do Sinaenco, Ilo Leite, disse que viu nascer e crescer a modelagem da Parceria Público Privada (PPP). “A maior preocupação é com o legado. Pelo planejamento chegou-se a conclusão que a melhor solução seria implantar não só o projeto de arena, mas de cidade e criar uma nova centralidade metropolitana. A arena está numa confluência São Lourenço da Mata, Recife e Camaragibe. É preciso agora criar uma nova mobilidade e a área tem terra para se fazer isso”, colocou Ilo. Segundo o representante do Sinaenco, existem outros empreendimentos sendo pensados para a região. “A PPP resgata o planejamento para não se tornar frágil quando o Estado receber de volta a estrutura. Já passamos muitos anos sem planejamento e hoje estamos pagando muito caro”, comentou. Outro item destacado por Leite é de que as PPPs traz a multilateralidade, envolvendo a sociedade e impulsionando a pensar não só na pequena região, mas no melhor do mundo para o cotidiano.
 
Por último, o público presente pôde conferir os questionamentos pertinentes do presidente do Saepe, Francisco Buarque. Para Buarque, a decisão política tomada para a escolha do local fora do Recife foi louvável. Mas o arquiteto critica a proposta de se construir um novo estádio de futebol, distante e sem mobilidade digna de aplauso até o momento. “Como torcedor e por ser criado nas imediações de clube de futebol, sei que as pessoas costumam ir ao estádio, na grande maioria, andando. Fico tentando imaginar esse deslocamento de 19 km”, comentou.
 
Para Buarque, é também bastante agravante o anúncio de uma nova arena no Recife, a da Ilha do Retiro. O arquiteto brincou. “Teremos duas arenas para a quantidade de espetáculos intensos que temos no Recife. Pesquisei nos últimos 30 anos os eventos que precisaram de uma estrutura de estádio na cidade e encontrei apenas o show do Menudo, da Xuxa e a Paixão de Cristo. Esse estádio não é viável apenas com a questão dos espetáculos que podem vir para o Recife. O São Paulo recebeu o show do U2 e passou cinco dias sem jogar porque o gramado ficou acabado. A manutenção de um estádio é muito caro”, colocou. Buarque afirmou que não é contra a Arena, mas acredita que essa discussão de hoje deveria ter sido bem antes.
 
Segundo Buarque, Pernambuco é o estado com maior público no Brasil porque o pernambucano gosta de futebol. “A maior parte que assiste aos jogos é o povão. Na Arena o ticket custaria em torno de R$ 40, não sei se é uma realidade para nós. Isso deveria ser levado em consideração”, disse.  O arquiteto acredita que se perdeu a oportunidade de revitalizar outro estádio em Pernambuco e oferecer nesse espaço equipamento mais moderno para a população dentro da capital com o custo mais acessível.
 
Vanessa Bahé
ASC Crea-PE

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