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Cenário agroflorestal e agronegócios são debatidos no Encontro de Lideranças

O cenário agroflorestal nacional e internacional foi tema de palestra durante a tarde da última segunda-feira (21) no Centro de Eventos Brasil 21, em Brasília, durante o 6º Encontro de Lideranças promovido pelo Confea. Para desenvolver o assunto sob diferentes pontos de vista foram convidados o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Célio Porto, e o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF), Vicente Almeida.

 
O coordenador da mesa, o conselheiro federal Kleber Santos, resumiu o painel como de grande importância porque procura discutir o cenário na agricultura e agroflorestal nacional. “É uma grande oportunidade de ouvir pessoas de capacidade e conhecimento nesse processo”, disse Kleber ao iniciar o debate. Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do MAPA, apresentou o cenário agrícola brasileiro e depois as oportunidades e desafios no comércio exterior. Segundo Porto, a volatilidade no comercio agrícola, usado para descrever a instabilidade dos preços, foi crescente até 2008, assim como os insumos agrícolas também cresceram na mesma proporção. Já no ano de 2009 ambos caíram e a partir de 2010 houve uma recuperação. "Agora temos atingido níveis recordes. Os preços agrícolas estão em níveis elevados e os insumos não estão mais no mesmo ritmo, o que é melhor para o produtor”, conta Célio Porto.
 
“No panorama nacional podemos destacar como fatores preponderantes para essa recuperação o crescente uso de produtos agrícolas para produção de biocombustíveis. O uso crescente do etanol como combustível, o que provoca um maior consumo de milho. Um Outro aspecto que vale a pena ressaltar é o crescimento da renda na Ásia e apesar da crise financeira a China e a Índia continuaram crescendo em um nível elevado”, explicou Porto. Para o secretário, o terceiro fator são as mudanças climáticas globais. “Temos verificado grande incidência de quebra de safra por conta de fatores climáticos. Ano passado a Austrália teve enchentes muito fortes que também levaram a quebra de safra. Na Rússia, no ano passado teve quebra na safra do trigo por conta de seca e incêndios florestais. Já na Índia, a safra de açúcar teve grande quebra, o país passou de concorrente para cliente. O mundo discute hoje quais as medidas devem ser adotadas para se contrapor a alta de preços agrícolas, com a preocupação dos efeitos nos países mais pobres com necessidade de exportação agrícola”, contextualizou Porto.
 
Célio Porto apresentou o organograma da secretaria e discutiu sobre o comercio agrícola mundial, destacando os principais produtos e a participação brasileira. “Relativamente o produto mais importante entre países é o complexo sólido, depois o pescado, seguido pelo trigo, óleo de palma, lácteos, fumo, café, carne bovina, arroz e açúcar. O Brasil é o principal exportador de complexos sólidos, como grãos e feijão. O Brasil é também um grande exportador de fumo e cigarro, café e carne, detendo 19% do mercado mundial. Já o arroz não tem exportação significativa como o açúcar, disparado o maior exportador e a crescente exportação do milho. Eu queria mostrar para vocês que ainda há um espaço muito grande para crescimento”, disse.
 
O palestrante abordou os principais importadores agrícolas mundiais e a participação brasileira. O número um na importação de produtos brasileiros é o bloco de 27 países, a União Européia, com participação em 2009 de 10%. Os EUA entram como segundo maior importador. Segundo Porto, o Japão é grande importador, mas a participação brasileira é pequena, de apenas 3%. A China tem participação efetiva mais concentrada na soja. A Rússia é o quinto maior importador, em termos de carne e açúcar o Brasil foi o maior exportador. “Em termos de superávit a agricultura brasileira é âncora. Comparado com outros países, o Brasil é um grande exportador agrícola e pequeno importador”, contou.
 
“Somos protagonistas de primeira linha nos produtos que exportamos. Este ano devemos passar a China e se tornar o segundo maior produtor de carne de frango mundial, o primeiro é o EUA”, disse. “Procuramos sensibilizar o mercado realizando seminários como o AgroEx, em que levamos informações para o setor agrícola regional com o intuito de despertar o agronegócio para exportação. A gente não deve ter vergonha nenhuma do nosso produto, pois somos detentor de tecnologia que muitos países gostariam de ter”, concluiu o secretário.
 
Após a explanação de Célio Porto, foi a vez de Vicente Almeida, presidente do SINPAF, abrir espaço para reflexão de entidade sindical, com diversos profissionais em seu meio que estão contribuindo com o processo do desenvolvimento que refletem hoje os números motivadores da agricultura brasileira. “Hoje vamos trazer a reflexão desses trabalhadores para o Sistema para que possamos formular nossas ideias e implantar políticas públicas para uma agricultura mais eficiente e sustentável”, informou Almeida. O sindicalista fez um convite para participar do 10º congresso, que será realizado de 26 a 30 de abril, com aproximadamente 300 delegados de todo o País para fazer fornmular o debate e contribuir com a sociedade.
 
Vicente propôs realizar um diálogo mais próximo com o Código Florestal e apresentou um breve histórico. “Já temos um registro da madeira de lei que estabelecia regras desses recursos naturais. Em 1934 foi aprovado o primeiro código florestal, modificado em 1965, que é apenas um regramento para utilização da nossa riqueza”, comentou Almeida. O primeiro artigo do Código aborda que os recursos naturais são bens de interesse comum com as limitações que a legislação e esta lei estabelecem. O presidente do SINPAF deu destaque ao direito ambiental. “Embora vivemos hoje em um País capitalista, precisamos de limites e regras por um conjunto de normas com o interesse maior da sociedade. Não é um empecilho, mas um regramento” explicou Vicente.
 
Almeida levantou uma crítica chamando a agricultura brasileira de modernização conservadora da agricultura, que segundo o presidente do SINPAF nada mais é do que ter um alto nível de inserção tecnológica, com crescente nível de produtividade, mas sem avanços em alguns aspectos da sociedade. “É a chamada redução da renda dentro da porteira, com propriedades agrícolas inseridas nesse processo histórico de redução de rentabilidade. O Brasil é o segundo país em concentração e centralização econômica no processo agrícola. É o terceiro maior em concentração de terras do mundo. Já foram realizadas reforma agrária no Japão, EUA, e no Brasil continuamos vendo trabalho degradante, análogo ao trabalho escravo. Vivemos uma crise ambiental mundial e uma crise alimentar”, desabafou Vicente Almeida.
 
De acordo com Vicente, um bilhão de pessoas vive no estado de insegurança alimentar.
“Se conseguirmos a melhor proposta para o Código Florestal não vamos resolver esse problema, não vamos favorecer os agricultores para aumentar sua renda, e não vamos resolver o problema da fome. Estima-se que no Brasil existe 60 milhões de hectares de terra degradada. Não precisamos destruir nenhuma árvore, existe mais que o necessário de área para avançarmos na produção desses alimentos, apenas recuperando essas áreas”, disse.
A proposta levantada por Almeida é de que é necessário encarar a floresta como espaço econômico que pode conviver com a agricultura. Segundo é preciso fortalecer o crédito e ter um sistema de comercialização adequado, buscando a distribuição das riquezas entre os agricultores brasileiros. “Uma agricultura sustentável está fornecendo não só um alimento mais saudável como também um ambiente mais saudável”, concluiu Vicente.
 
O presidente da Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais (SBEF), Glauber Pinheiro, também deu sua contribuição com relação ao tema explicando que as florestas e as áreas de proteção colaboram com a agricultura. “É fundamental que os profissionais e toda sociedade defendam o Código Florestal e as áreas de preservação. A floresta pode gerar recurso e gerar muitos benefícios. Precisamos nos ater em evitar tragédias ambientais, o surgimento de pragas e fatores negativos que prejudicam a agricultura e toda a sociedade”, comentou.
 
Vanessa Bahé
ASC Crea-PE

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